Uma Recepção Aberta
Foi dito corretamente que a doutrina
errada leva à prática errada (2 Tm 2:16). Esse é certamente o caso dos falsos
ensinamentos dos Irmãos Abertos de que a associação com a má doutrina não
contamina a pessoa. Isso os levou a praticar a recepção aberta à ceia do
Senhor. Se a raiz da divisão de Betesda é a indiferença a Cristo, o fruto
é a prática da recepção aberta.
A respeito dos princípios de recepção, o
Sr. A. N. Groves (considerado por alguns como um dos que deram origem aos
Irmãos Abertos) disse; “Eu INFINITAMENTE OS AGUENTARIA com todo o mal deles, em
vez de me SEPARAR do BEM que possuem... de acordo com meus princípios, eu
recebo a todos eles.” (As maiúsculas são do Sr. Groves). Esta afirmação resume
a posição dos Irmãos Abertos. O Sr. F. F. Bruce (um historiador dos Irmãos
Abertos) confirma isso, afirmando: “Suas palavras [do Sr. Groves] expressam a
atitude que os Irmãos Abertos reconhecem como seu ideal.”
Como não queremos acusar injustamente os
Irmãos Abertos nesse assunto, nos apressamos em dizer que isso se aplica
particularmente ao braço “liberal” (as Capelas) hoje. Em certo sentido, eles
realmente não têm princípios de recepção ou, se o fazem, é mínimo na maioria
das assembleias. Como cada assembleia age de maneira independente, algumas
podem ser um pouco mais cuidadosas do que outras, mas geralmente, se uma pessoa
diz que é Cristã, é imediatamente permitido a ela partir o pão com eles. Acreditam
que a assembleia se limpa afirmando que cada indivíduo é responsável por se
examinar nesse assunto e que não é responsabilidade da assembleia examinar as
pessoas. Para apoiar isso, eles usam 1 Coríntios 11:28: “Examine-se
pois o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice”.
Embora seja verdade que cada pessoa deve
se examinar antes de comer a ceia do Senhor, 1 Coríntios 11:28 não está
ensinando que a assembleia deve ter uma recepção aberta à ceia. Seria uma clara
contradição das Escrituras que ensinam que a assembleia é responsável por
julgar o mal em seu meio (1 Co 5:12). O princípio é simples: se uma assembleia
local é responsável por julgar o mal em seu meio, segue-se naturalmente que
deve ser cuidadosa com o que ou a quem ela traz em seu meio. Portanto, é
necessário cuidado na recepção.
Visto que a pureza deve ser mantida na
assembleia (Sl 93:5), quando alguém deseja partir o pão à “mesa do Senhor”
(1 Co 10:21), a assembleia deve tomar cuidado para não trazer alguém à comunhão
que possa estar envolvido com o mal; seja moral, doutrinal ou eclesiástico. Foi
dito com razão que a assembleia local não deve ter uma comunhão aberta, nem uma
comunhão fechada, mas sim, ter uma comunhão vigiada. A assembleia deve
receber à mesa do Senhor todo membro do corpo de Cristo, a quem a disciplina
bíblica não proíbe. Embora cada Cristão tenha o privilégio de estar à
mesa do Senhor, nem todo Cristão tem necessariamente o direito de estar lá, porque esse privilégio pode ser confiscado por
seu envolvimento em algum mal.
Visto que a Palavra de Deus não se
contradiz, 1 Coríntios 11:28 deve estar se referindo a algo que não seja a
recepção à mesa do Senhor. Um exame mais atento do contexto do capítulo nos
permite ver que o versículo não se refere àqueles que gostariam de estar
em comunhão à mesa do Senhor, mas àqueles que já estão em comunhão ali.
É simplesmente dizer que cada um que está em comunhão tem a responsabilidade de
se julgar antes de participar da ceia do Senhor. É algo como um comando que os
pais dão aos filhos antes de se sentarem para jantar. Eles dizem: “Certifique-se
de lavar as mãos antes de se sentar”. Este comando se aplica às crianças que
estão nessa família e que comem nessa mesa. Não se refere aos vizinhos na rua.
É o mesmo na assembleia; os que estão em comunhão à mesa do Senhor são
exortados a se examinar antes de participar da ceia.
Os Irmãos Abertos são rápidos em apontar
que a pessoa que não se julga antes de comer da ceia come e bebe “para sua própria
condenação (juízo –
ARA)” – não para juízo da
assembleia (1 Co 11:29). Isso é usado para provar que a assembleia está
supostamente livre de responsabilidade neste assunto. É verdade que a pessoa trará
juízo sobre si mesma, mas a mesma passagem nos diz que também poderia haver
resultados colaterais sentidos por aqueles na assembleia, como uma ação
governamental de Deus. A mesma passagem diz: “Por causa disto, há entre vós
muitos fracos e doentes, e muitos que dormem” (v. 30). Não há menção de que
essas pessoas foram as próprias transgressoras nas más ações. Faziam parte da
assembleia em Corinto e, ao serem identificadas com aqueles que estavam comendo
e bebendo indignamente, sentiram a mão de Deus no julgamento governamental.
Veja o exemplo no tipo dos 36 homens que morreram ao lutar em Ai (Js 7:5).
Esses homens não eram culpados de tomar do anátema, como Acã, mas, sendo
identificados externamente com ele, Deus permitiu que caíssem na batalha.
Podemos nos perguntar por que Deus
permitiria que Seu julgamento governamental tocasse alguém na assembleia que
não fosse diretamente responsável por comer e beber indignamente. Acreditamos
que é porque estamos todos no mesmo vínculo da comunhão prática, e o que
envolve a pessoa afeta a todos. Isso não deve nos assustar, porque podemos ter
certeza de que, seja o que for que o Senhor permita tocar Seu povo, vai acontecer
se isso for “necessário” (1 Pe 1:6) para eles e com um propósito de amor
de Sua parte (Hb 12: 6). No entanto, deve nos exercitar sobre a manutenção de
um bom estado espiritual. E também devemos nos preocupar com o estado de nossos
irmãos com quem estamos em comunhão. Somos o “guardador de” nossos
irmãos (Gn 4:9) e temos responsabilidade uns pelos outros. Saber que a mão do
Senhor estará sobre nós coletivamente, se nós, como companhia, não
prosseguirmos bem, deve nos motivar a pastorear aqueles que estão descuidados na
vida pessoal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário