sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Disciplina de uma Assembleia


DISCIPLINA DE UMA ASSEMBLEIA – A escritura indica claramente que a verdade do “um só corpo” também deve ser expressa em questões relacionadas à disciplina e excomunhão. Embora possa haver muitas milhas de distância entre as assembleias, elas são vistas como estando todas em um só terreno e em uma comunhão; quando uma assembleia age com capacidade administrativa, as outras assembleias reconhecem esse ato de ligar ou desligar (Mt 18:18-20), porque esses atos feitos em uma assembleia são feitos em nome do corpo como um todo.
Em 1 Coríntios 12:27, Paulo indica que a assembleia em Corinto era a representante local do corpo como um todo. Isso seria verdade para todas as assembleias, fosse Corinto, Éfeso, Filipos, etc. Infelizmente, este versículo na versão King James (e na ARC) diz: “Agora sois o corpo de Cristo.” Isso é enganoso e pode levar alguém a pensar que o corpo de Cristo estava apenas em Corinto – como se eles fossem os únicos no corpo, ou que cada assembleia local fosse o corpo de Cristo. Isso não está correto porque o corpo de Cristo abrange todos os Cristãos na face da Terra. O versículo deve ler: “Ora, vós sois corpo de Cristo; e, individualmente, membros desse corpo” (ARA). Isso transmite com mais precisão o pensamento. Nota: Paulo não diz “nós”, mas “vós”. Ele estava falando da assembleia em Corinto. Eles certamente não eram o corpo inteiro, mas eram do corpo de Cristo – isto é, parte do todo.
Hamilton Smith ilustra esse ponto pedindo que imaginemos um general, dirigindo-se a uma companhia local de soldados, dizer: “Lembrem-se homens, vocês são guardas da rainha”. Ele não disse: “vocês são os guardas da rainha”, porque eles não formam todo o regimento. A ausência do artigo “o” na tradução correta transmite o pensamento correto de que a assembleia de Corinto era a expressão local do corpo de Cristo como um todo. Sendo o representante local de todo o corpo, a assembleia deve atuar em nome do corpo como um todo nos assuntos administrativos da comunhão. Portanto, atuando na recepção, na disciplina ou em algum outro assunto, o fazem em vista do corpo como um todo – isto é, o que é praticado em uma localidade se estende ao todo. A competência de cada assembleia para agir em nome do corpo como um todo advém do fato de o Senhor sancionar o meio em que se encontra e suas ações administrativas (Mt 18:20).
Se uma assembleia tomar uma decisão de ligar afastando alguém da comunhão, o corpo como um todo atua em comunhão com essa assembleia e reconhece a ação de modo que a pessoa “repudiada” seja considerada “fora” em todas as outras reuniões também – não apenas na localidade onde ele reside. Vemos isso em 1 Coríntios 5:13, onde a assembleia em Corinto deveria afastar aquela pessoa iníqua do meio deles. Então 2 Coríntios 2:6 nos diz que a “repreensão” ou “censura” (JND) feita pela assembleia de Corinto foi “feita por muitos”. Os “muitos” se referem ao corpo como um todo – a massa dos santos universalmente (conforme a nota de rodapé da tradução de J. N. Darby,). Portanto, o ofensor é obrigado a sentir a repreensão por mais do que apenas sua assembleia local. (Não dizemos que o homem em questão realmente foi a outras localidades e recebeu a repreensão delas, mas que a ação foi realizada pelo corpo como um todo.) O ponto aqui é que, se uma pessoa tiver de ser afastada da comunhão em uma localidade específica, ela é considerada fora da comunhão em qualquer lugar da Terra, porque o que é feito em nome do Senhor em uma assembleia afeta o todo na prática.
Mateus 18:18 confirma isso. O Senhor disse: “Tudo o que ligardes na Terra... Isso mostra que uma decisão tomada por uma assembleia é tomada para a Terra toda. O Senhor não disse que era algo para uma localidade específica. Não há nada na Escritura sobre tomar uma decisão de ligar que se aplique apenas a uma determinada localidade. Neste versículo, o Senhor está simplesmente dizendo que, se a assembleia tomar uma decisão em Seu nome, Ele a reconhecerá. Se o céu a reconhece, então todos na Terra também a reconhecerão.
Da mesma forma, quando se trata de desligar uma ação que foi ligada, a assembleia onde a ação foi realizada retira a censura e (administrativamente) perdoa a pessoa arrependida que ela excomungou, então o corpo como um todo segue, expressando também perdão, em receber a pessoa se ela vier a essas assembleias. Portanto, quando é “desligado no céu”, é desligado em todas as outras assembleias também. Um exemplo de desligar é visto nos comentários de Paulo em 2 Coríntios 2:7-11. Embora Paulo tivesse autoridade para, se necessário, agir apostolicamente nesta matéria, ele optou por esperar até que a assembleia de Corinto agisse, de modo a manter “a unidade do Espírito”. Ele disse: “A quem (vós) perdoardes alguma coisa, também eu.” Ao fazer isso, a Igreja expressa a verdade de que é “um só corpo”.
Paulo passou a dizer, “para que (nós) não sejamos vencidos por Satanás” (2 Co 2, 11). Nota: ele não disse: “vós sejais vencidos – referindo-se aos coríntios; ele disse: “(nós)”. Isso indica os santos como um todo no “um só corpo”. Paulo sabia que Satanás estava procurando dividir as assembleias em seu testemunho universal de um só corpo, e essa delicada questão entre assembleias era onde ele iria trabalhar. Portanto, Paulo, como representante dos demais santos, indica como devemos agir nessas questões de desligar um julgamento da assembleia. Embora ele (e talvez outros) soubesse que o homem estava arrependido e deveria ser restaurado à comunhão, ele não foi à frente da assembleia em Corinto e agiu independentemente no assunto, embora, sendo apóstolo, tivesse autoridade para agir assim. Em vez disso, ele esperou que os coríntios agissem primeiro no assunto; então ele e o resto dos santos em outros lugares da Terra aceitariam o julgamento deles e o seguiriam. Somos ensinados por isso que não devemos agir de forma independente, mas em conjunto com a assembleia que faz a ação e, assim, expressar que somos um corpo.
Vemos outro exemplo da verdade do “um só corpo” praticada em Atos 15, quando surgiram problemas entre os santos de Antioquia, devido a mestres judaizantes de Jerusalém que perturbavam os santos com sua doutrina de misturar lei e graça. Novamente, aprendemos algumas lições valiosas sobre como Deus gostaria que lidássemos com problemas entre assembleias. A primeira coisa que descobrimos é que eles decidiram enfrentar o problema com aqueles de Jerusalém. Poderíamos pensar que a razão pela qual eles levaram o assunto foi porque era o centro de Deus para lidar com problemas de assembleia, como se fosse o único local central na Terra (uma sede) para a qual as assembleias deveriam levar seus problemas. Mas a assembleia em Antioquia não foi a Jerusalém porque não era qualificada para lidar com o problema – o Senhor estava no meio da assembleia de Antioquia, assim como em Jerusalém. E, se fosse simplesmente um caso em que eles desejassem um julgamento apostólico no assunto, eles poderiam ter apelado aos apóstolos Paulo e Barnabé, que estavam lá em Antioquia. Quem, exceto o apóstolo Paulo, era mais qualificado para lidar com questões que tocam a lei e a graça? Embora seja verdade que eles valorizavam o discernimento dos apóstolos e líderes em Jerusalém no assunto, a razão mais profunda para subir a Jerusalém era “guardar a unidade do Espírito no vínculo da paz”. O fato era que os mestres judaizantes que incomodavam os santos de Antioquia tinham vindo de Jerusalém (v. 24). Para não romper a unidade prática entre as duas assembleias, os irmãos de Antioquia não lidaram com o problema de forma independente, mas o levaram para onde se originou e deixaram Jerusalém lidar com o problema.
Isso nos ensina que, se alguém de uma determinada assembleia visita outra assembleia e faz algo errado ali, de modo que exija correção ou ação disciplinar, essa assembleia não deve agir de forma independente, mas levá-la à assembleia local de onde o causador de problemas veio; e eles podem lidar com isso. Assim, “a unidade do Espírito” é mantida no vínculo unificador da paz. Isso, novamente, mostra que a Escritura não apoia a ideia de assembleias agindo autonomamente.
É digno de nota que quando eles subiram a Jerusalém com esse assunto e pararam em várias assembleias ao longo do caminho, eles não perturbaram essas reuniões, espalhando o problema entre elas. Eles apenas falaram de coisas que causariam “grande alegria” entre os santos, embora sem dúvida estivessem profundamente sobrecarregados com o assunto que atingiu o ponto principal da posição do Cristão em graça. Isso nos ensina a importância de não espalhar os problemas da assembleia local desnecessariamente. Nosso adversário, o diabo, poderia alcançá-lo e usá-lo para causar problemas entre os santos.
Portanto, uma assembleia reunida biblicamente não é autônoma, mas funciona em comunhão com todas as outras assembleias no verdadeiro terreno da Igreja, porque se reúne no terreno do “um só corpo”. O princípio do “um só corpo” deve também entrar em ação quando uma assembleia inteira erra. Se essa assembleia se recusar a lidar com seus erros depois de lhes ter sido conclusivamente mostrado na Palavra de Deus, será renegada pela ação vinculativa de outra assembleia agindo em nome do corpo como um todo. Depois de examinar cuidadosamente o assunto, eles simplesmente declarariam formalmente que a assembleia errada não está mais reunida no verdadeiro terreno da Igreja de Deus. Seguindo o princípio do tipo em Deuteronômio 21:1-9, a ação deve ser tomada por uma assembleia que seja a mais próxima do problema e conheça a situação intimamente. (A proximidade aqui não é necessariamente uma proximidade geográfica, mas uma proximidade moral. Isso é visto em Atos 15. A assembleia em Antioquia era moralmente mais próxima do problema, depois de os professores judaizantes ensinarem sua má doutrina naquela assembleia. Eles levaram o caso à assembleia em Jerusalém, de onde vieram os judaizantes, embora houvesse outras assembleias geograficamente mais próximas de Jerusalém.)
Essa responsabilidade coletiva é ilustrada em outra figura em Deuteronômio 13. Se o mal fosse encontrado em uma pessoa em uma cidade na nação, à essa cidade em que ele vivia era ordenado: “o apedrejarás” até a morte (vs. 6-11). O apedrejamento fala da consciência de todos em uma assembleia local que está engajada no julgamento de uma pessoa má em seu meio. Mas, se uma cidade fosse encontrada tendo o mal não julgado, as outras cidades da nação deveriam agir para a glória do Senhor e julgar essa cidade. Deveria ser destruída e feita um monte para sempre (vs. 12-18). Isso mostra que havia uma responsabilidade coletiva por parte de todas as cidades em Israel de afastar o mal na nação. Veja também Jz 19-20. Tipicamente, fala de uma assembleia que provou ser injusta, sendo rejeitada pelas outras assembleias em comunhão com ela, e a partir de então é vista como não mais reunida no verdadeiro terreno da Igreja.
Em vista desses princípios bíblicos, podemos afirmar que a Escritura não reconhece nada de comunhão independente (autônoma). As assembleias locais não são vistas na Escritura como “ilhas” de comunhão separadas, todas por si mesmas no oceano da profissão Cristã; a Escritura vê apenas uma comunhão universal à qual todos os Cristãos são chamados (1 Co 1:9). Os Irmãos Abertos chamam isso de “interconectividade de assembleias” (em oposição à sua “autonomia das assembleias”), mas a Escritura chama isso de manter “a unidade do Espírito pelo vínculo da paz: há um corpo” (Ef. 4:3-4).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Uma Publicação VERDADES VIVAS

O Livro impresso está  disponível  ➪   AQUI   O Livro eletrônico está  disponível  ➪   AQUI   Caso queria compartilhar este liv...