Uma Comunhão
Universal de Crentes
A escritura também ensina que, como o
vínculo entre os membros do corpo de Cristo é universal, a comunhão
deles também deve ser universal. Consequentemente, a Escritura diz: “Fiel
é Deus, pelo Qual fostes
chamados para a comunhão de Seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor” (1 Co 1:9).
Embora Paulo estivesse escrevendo para os santos em Corinto, não há menção de
essa comunhão ser algo local em Corinto. De fato, ao abordá-los em questões de
ordem de assembleia e comunhão, o apóstolo disse: “... com todos os que em todo o
lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Co 1:2). Ele
cuidadosamente ligou os que estavam em Corinto às outras assembleias na Terra
como parte de uma comunhão. O desejo de Deus é que todo Cristão ande
nesta comunhão, independentemente de onde ele esteja na Terra.
A Escritura indica que, embora possa haver
muitas reuniões de Cristãos em uma cidade, elas são vistas como uma assembleia.
Por exemplo, Paulo se dirigiu aos coríntios como “a igreja de Deus que está
em Corinto” (1 Co 1:2), embora mais tarde na epístola ele reconheceu que
nem todos eles se encontravam “em um só lugar” na cidade (1 Co 14:23).
Isso é visto novamente com a assembleia em Jerusalém. Em Atos 2:47, diz: “E
todos os dias acrescentava o Senhor à igreja [juntos[1] – JND]
aqueles que se haviam de salvar”. Eles partiam o pão em muitos locais
de reunião na cidade, mas faziam isso como estando “juntos” em uma comunhão.
É visto novamente em Atos 9:31: “Assim,
pois, tinha paz a Igreja por toda a Judeia, Galileia e Samaria, sendo edificada
e caminhando no temor do Senhor, e crescia no conforto do Espírito Santo” (TB).
A versão King James e a Almeida Revista e Corrigida erroneamente traduzem como
“as igrejas”, mas deveria ser, “a Igreja”. Havia muitos locais de reunião
nessas regiões, mas esses locais são referidos simplesmente como “a Igreja”,
indicando única comunhão de Cristãos que existia nessas regiões.
E novamente, em 2 Coríntios 3:3, Paulo
fala dos muitos crentes em Corinto como “a carta de Cristo”. Nota: a palavra “carta” é singular;
não são “cartas”, como a maioria das pessoas equivocadamente mencionam.
A intenção é retratar a unicidade deles.
Mateus 18:15-20 é a primeira menção da
assembleia local na Escritura, e vemos o Senhor aludindo ao pensamento de
unidade prática entre os reunidos ao Seu nome. Mateus 18:20 diz: “Porque
onde estiverem dois ou três reunidos em [são[2]
colocados juntos para o –
JND] Meu nome, aí, estou Eu no meio
deles”. Ele desejou que todos aqueles a quem o Espírito de Deus
reunia para o Seu nome, onde quer que estivesse na Terra, estivessem “juntos”. Ele não poderia ter pensado que
todos deveriam estar reunidos em um único local geográfico, como era no judaísmo
em Jerusalém. O Senhor estava indicando que eles deveriam agir juntos, com
todos os outros naquele terreno em que os reuniu (mesmo que eles estivessem em
diferentes localidades), de modo a expressar universalmente que eles eram um.
Portanto, desde o início do ensino da assembleia na Escritura, existe o
pensamento de haver uma comunhão universal dos santos na Terra.
Agora, alguém pode pensar que estamos
lendo mais nesta palavra “juntos” (em Mateus 18:20) do que aquilo que
ela quer significar, mas quando nos voltamos para o livro de Atos e as
epístolas, como estamos prestes a fazer, e essa Escritura é interpretada à luz
de todo o teor da revelação Cristã, podemos ver que o Senhor estava indicando a
verdade da unidade da Igreja. Isso é apenas sugerido aqui em Mateus 18, porque
os discípulos ainda não tinham o Espírito e não seriam capazes de absorver o
sentido (Jo 14:25-26, 16:12). O Senhor fez isso em muitas ocasiões em Seu
ministério, dando apenas a semente de uma verdade e deixando que ela se
desenvolvesse por meio dos apóstolos quando o Espírito veio.
Em João 10:16, o Senhor indica que Ele
iria reunir Seu povo em “um rebanho”. Nota: Ele não diz que
queria que eles fossem encontrados em vários rebanhos independentes, mas que
todos seriam “um”, independentemente de onde possam ser encontrados na Terra.
Haveria muitas reuniões, mas apenas um rebanho – apenas uma comunhão
universal de santos.
Em João 11:51-52, Deus levou Caifás a
profetizar de Sua intenção de “colocar juntos em um os filhos de
Deus, que andavam dispersos” (JND) depois
que o Senhor realizou a redenção. Além disso, o Senhor orou para esse fim,
dizendo: “Pai santo, guarda em Teu nome aqueles que Me deste, para que sejam
um, assim como Nós..” E, novamente, “para que todos sejam um,
como Tu, ó Pai, o és em Mim, e Eu em Ti; que também eles sejam um em Nós,
para que o mundo creia que Tu Me enviaste” (Jo 17:11, 21). Esses versículos
no evangelho de João falam da unidade na família de Deus. Eles mostram que o
desejo de Deus pelo Seu povo é que eles sejam encontrados juntos em uma unidade
visível na Terra, independentemente de onde estejam geograficamente.
Os membros do corpo de Cristo devem
expressar visivelmente a verdade de que eles são “um só corpo”
Além disso, a Escritura indica que o “um
só corpo” de Cristo (Ef. 4:4) é o terreno sobre a qual a Igreja deve se
reunir localmente para adoração, ministério, comunhão e ações administrativas
de disciplina. Portanto, uma assembleia reunida biblicamente expressará essa
verdade com outras assembleias que são reunidas de maneira semelhante nesse
terreno e, assim, manifestam a unidade no corpo de Cristo de uma maneira
prática.
As epístolas aos efésios e colossenses revelam
a verdade do “grande Mistério” de Cristo e a Igreja, que é o Seu corpo.
E, a primeira exortação prática da epístola aos efésios é “andar digno da
vocação” com que fomos chamados (Ef 4:1). Podemos perguntar: “Como os
membros do corpo devem andar dignos?” Alguns podem nos dizer que devemos fazê-lo
vivendo de maneira correta e sendo bons cidadãos na comunidade, mas esse não é
o assunto da passagem. Os Cristãos, é claro, devem se preocupar em andar de
maneira correta, mas o contexto de Efésios 4 indica que a exortação a “andar
digno” tem em vista o ser chamado ao corpo de Cristo. Isso é visto nos
versículos seguintes, que dizem: “com toda a humildade e mansidão, com
longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, procurando diligentemente
guardar a unidade do Espírito no vínculo da paz” (Ef 4:2-3 – AIBB). É
claro, portanto, que a Igreja deve andar digna de seu chamado, mantendo a
unidade do Espírito, porque é “um só corpo”.
Não somos chamados a manter a unidade do
corpo, mas “a unidade do Espírito”. Isso ocorre porque a unidade do
corpo é uma coisa vital que o Espírito de Deus formou no Pentecostes ao unir os
membros do corpo juntos à Cabeça no céu, do qual agora fazemos parte por meio
do selo do Espírito (Ef 1:13). Nenhum poder do mal ou do inimigo pode quebrar a
unidade do corpo, pois o próprio Deus a mantém. A unidade do Espírito, por
outro lado, é uma unidade prática entre os crentes que somos responsáveis por
manter, e é nosso privilégio fazê-lo. F. G. Patterson disse: “Manter a
unidade do Espírito é se diligenciar em manter em prática o que existe de fato”.
E o que existe de fato? A passagem continua dizendo: “há um só corpo” (v.
4). Outro disse que a unidade do Espírito é “aquilo que o Espírito está
formando para dar verdadeira expressão à verdade do um só corpo”.
Concluímos, portanto, que os Cristãos devem andar dignos de seu chamado,
colocando em prática a verdade de que são “um só corpo”. É da vontade de Deus que essa
unidade seja expressa universalmente, onde quer que o corpo esteja na Terra.
Essa é a primeira grande responsabilidade coletiva da Igreja, o corpo de
Cristo. Esta unidade não se refere apenas a um grupo local de crentes; o
sujeito é o “um só corpo” e o “um só corpo” não está em nenhuma
localidade. É uma unidade universal entre os crentes na Terra.
Para ajudar os membros do corpo de
Cristo a caminharem juntos em unidade prática, Efésios 4 continua nos dizendo
que Cristo, a Cabeça do corpo elevada ao céu, fez provisão completa para os
membros para esse fim (Ef 4:7-16). Ele deu “dons” à Igreja com o
propósito de ajudar os santos a entenderem seus privilégios e responsabilidades
no corpo, para que eles andassem dignos de seu chamado.
Os Irmãos Abertos reconhecerão a verdade
de que “há um só corpo”, mas eles o veem meramente como um conceito
doutrinário que não tem ramificações práticas na eclesiologia Cristã (prática
da Igreja). Mas eles estão enganados; a Escritura mostra que a Igreja primitiva
praticava o princípio do “um só corpo”, e a Igreja hoje deveria praticá-lo também. Essa verdade é
encontrada em muitos lugares no Novo Testamento. Vamos nos concentrar em duas
coisas: recepção e disciplina.
[1] N. do T.: A
nota de rodapé de J. N. Darby diz: “Alguns omitem ‘à assembleia’, cap. 2:47 e
vincule ‘juntos’ ao final do cap. 2. Provavelmente deveríamos ler ‘o Senhor
acrescentava juntos diariamente aqueles que deveriam ser salvos. E Pedro (ou
‘Ora Pedro’) e João subiram ao templo’.
[2] N. do T.: Foi
usado o verbo “ser” (“são colocados”)
e não o “estar” (como na maioria das traduções bíblicas em português de Mateus
18:20) pois “ser” indica uma propriedade ou característica permanente do sujeito ao passo que “estar” indica um estado transitório.
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