O Princípio de um
Testemunho Remanescente
É claro que aqueles que dizem isso não
entendem o conceito na Escritura de um “testemunho remanescente”. É
extremamente importante manter essa verdade, pois ela tem uma grande medida de
aplicação em nossos dias.
Um grande princípio no qual Deus age
quando o que entregou nas mãos dos homens em testemunho falha é que Ele reduz
seu tamanho, força, glória e número e segue adiante em uma forma remanescente. Ele
não Se identifica mais com o testemunho como um todo, no mesmo poder e glória
que outrora fez quando este foi inicialmente estabelecido. Se Ele fizesse isso,
poderia parecer que Ele tolerava as condições existentes em seu estado decaído.
Em vez disso, Ele recorre ao Seu poder e graça soberanos para manter Seu
testemunho – mas de uma forma remanescente. Deus agiu de acordo com esse princípio
em Israel no passado, e Ele fará novamente com o remanescente judeu nos dias
vindouros, e ele está fazendo isso hoje no testemunho Cristão.
Para ver esse princípio na Palavra de
Deus com mais clareza, veja Deuteronômio 12:5-7: “Mas o lugar que o Senhor
vosso Deus escolher de todas as vossas tribos, para ali pôr o Seu nome,
buscareis para sua habitação, e ali vireis. E ali trareis os vossos
holocaustos, e os vossos sacrifícios, e os vossos dízimos, e a oferta alçada da
vossa mão, e os vossos votos, e as vossas ofertas voluntárias, e os
primogênitos das vossas vacas e das vossas ovelhas. E ali comereis perante o
Senhor vosso Deus”. Isso mostra que, originalmente, era desejo de Deus que todo
o Seu povo se reunisse para adoração neste único “lugar” de Sua
escolha, que era Jerusalém.
Agora, abra em 1 Reis 11:9-13: “Pelo que o
Senhor se indignou contra Salomão: porquanto desviara o seu coração do Senhor
Deus de Israel, O qual duas vezes lhe aparecera. E acerca desta matéria lhe
tinha dado ordem que não andasse em seguimento de outros deuses: porém não
guardou o que o Senhor lhe ordenara. Pelo que disse o Senhor a Salomão: Pois
que houve isto em ti, que não guardaste o Meu concerto e os Meus estatutos que
te mandei, certamente rasgarei de ti este reino, e o darei a teu servo. Todavia
nos teus dias não o farei, por amor de Davi teu pai: da mão de teu filho o
rasgarei: Porém todo o reino não rasgarei: uma tribo darei a teu filho, por
amor de Meu servo Davi, e por amor de Jerusalém, que tenho elegido.”
Então, nos versículos 29-36, diz: “Sucedeu,
pois, naquele tempo que, saindo Jeroboão de Jerusalém, o encontrou o profeta
Aías, o silonita, no caminho, e ele se tinha vestido dum vestido novo, e sós estavam
os dois no campo. E Aías pegou no vestido novo que sobre si tinha, e o
rasgou em doze pedaços. E disse a Jeroboão: Toma para ti os dez pedaços, porque
assim diz o Senhor Deus de Israel: Eis que rasgarei o reino da mão de Salomão,
e a ti darei as dez tribos Porém ele terá uma tribo, por amor de
Davi, Meu servo, e por amor de Jerusalém, a cidade que elegi de todas as tribos
de Israel. Porque Me deixaram, e se encurvaram a Astarote, deusa dos sidônios,
a Camós, deus dos moabitas, e a Milcom, deus dos filhos de Amom; e não andaram
pelos Meus caminhos, para fazerem o que parece reto aos Meus olhos, a
saber, os Meus estatutos e os Meus juízos, como Davi, seu pai. Porém não
tomarei nada deste reino da sua mão: mas por príncipe o ponho por todos os dias
da sua vida, por amor de Davi, Meu servo, a quem elegi, o qual guardou os Meus
mandamentos e os Meus estatutos. Mas da mão de seu filho tomarei o reino, e to
darei a ti, as dez tribos dele. E a seu filho darei uma tribo; para que
Davi, Meu servo, sempre tenha uma lâmpada diante de Mim em Jerusalém, a cidade
que elegi para pôr ali o Meu nome.”
Então, no capítulo 12:22-24, diz: “Porém
veio a palavra de Deus a Semaías, homem de Deus, dizendo: Fala a Roboão, filho
de Salomão, rei de Judá, e a toda a casa de Judá, e a Benjamim, e ao resto do
povo, dizendo: Assim diz o Senhor: Não subireis nem pelejareis contra vossos
irmãos, os filhos de Israel; volte cada um para a sua casa, porque Eu é que fiz esta obra”.
Vemos a partir disso, que embora fosse o
desejo de Deus que todo o Seu povo se reunisse em Jerusalém para oferecer seus
sacrifícios (Dt 12), uma vez que o fracasso havia ocorrido, Ele não continuaria
Seu testemunho em Seu centro divino no poder e glória que já teve. Salomão e os
filhos de Israel fracassaram e se converteram do Senhor à idolatria (1 Rs 11:10-11,
33), e isso levou o Senhor a mudar Seus caminhos com eles. Ele reduziria o
tamanho, o poder e a glória de Seu testemunho em Israel e o continuaria em um “remanescente”.
Ele continuaria depois com apenas uma das doze tribos.
Esta é a primeira vez nas Escrituras que
a palavra “remanescente” é usada em conexão com o testemunho público do
povo de Deus. É importante observar a “regra da primeira vez” na interpretação
da Bíblia, porque quando algo é usado pela primeira vez na Escritura,
geralmente dá o senso de como será usado posteriormente em outras passagens.
Por isso, é bom prestar atenção ao que é dito aqui. O importante é ver que
houve uma mudança acentuada nos caminhos de Deus quando o fracasso chegou. Ele
removeu dez das tribos do centro divino e manteve apenas “uma tribo” lá
– um remanescente. O Senhor disse: “Eu é que fiz esta obra”. Era Seu
dever remover a maioria de Seu povo do centro divino de reunião. Não é uma
contradição dos princípios de Deus, conforme indicado em Deuteronômio 12, mas
uma mudança nos Seus caminhos quando um fracasso total havia chegado.
O Senhor agirá com o mesmo princípio com
os judeus na grande tribulação vindoura. Quando a nação se entregar à idolatria
que o anticristo trará, o Senhor separará um remanescente entre eles e trará
muitos deles durante esse tempo de angústia para o Seu reino milenar (Is 8:12-18,
17:6-7, 66:2). Naqueles dias, “o testemunho” não estará na massa da
nação, mas “entre os Meus discípulos” (Is 8:16).
Alguns podem perguntar: “Posso ver esse princípio
no trato de Deus com Israel, mas pode ser aplicado ao testemunho da Igreja?” A
resposta, inequivocamente, é sim. Vemos o princípio disso na passagem que
examinamos em 2 Timóteo 2:19-22. Lá, Deus encoraja os crentes exercitados a se
separarem da mistura na casa de Deus e a se retirarem para uma posição
remanescente “com os que, com um coração puro, invocam o Senhor”.
É visto mais especificamente em
Apocalipse 2-3. Esses capítulos descrevem a história profética da Igreja desde
seus primeiros dias, logo após os apóstolos, até os últimos dias. Se seguirmos
o curso das coisas descritas nesses discursos às sete igrejas, veremos um curso
descendente no testemunho Cristão, até finalmente, atingir um ponto em que não há
recuperação e, daí em diante o Senhor age segundo o princípio de um testemunho
remanescente.
Em Éfeso, aprendemos que o “anjo da
igreja” (os líderes responsáveis) julgou corretamente tudo o que era
inconsistente com o Senhor. Diz que eles não podiam “sofrer os maus”. Mas, infelizmente, o coração deles
não estava com Ele nisso (Ap 2:2-4). Em Esmirna, qualquer outro declínio
foi temporariamente interrompido pelas grandes perseguições que caíram sobre a
Igreja. A severidade da provação os lançou de volta ao Senhor. Mas em Pérgamo,
quando terminaram os tempos de grande perseguição, o “anjo da igreja” começou
a tolerar alguns que defendiam “a doutrina de Balaão”, que é mundanismo
e idolatria. O anjo não foi acusado de manter essas doutrinas, mas o Senhor encontrou
culpa neles, porque eles não denunciaram o mal, assim como o anjo em Éfeso.
Em Tiatira, uma condição pior
prevaleceu; o “anjo da igreja” permitiu que a mesma doutrina e prática
maligna que alguns de Pérgamo mantinham fosse ensinada! (Compare Apocalipse
2:14 com 2:20) O que começou como alguns mantendo má doutrina terminou em muitos
ensinando má doutrina. Isso mostra que, se sustentar o mal não for julgado,
levará à sua propagação. Em Tiatira, o ensino desse mal havia se
transformado em um sistema de coisas chamado “Jezabel”, que certamente corresponde
ao catolicismo. Na Idade Média, esse sistema perverso tinha um domínio tão
tirânico da igreja em geral, com sua força e organização, que controlava o
anjo! Aqueles que estavam no lugar de responsabilidade não conseguiram lidar
com isso quando podiam, e agora ele se tornara um monstro que os controlava!
(Compare Atos 27:14-15. O “Euroaquilão” – um grande vento do
Mediterrâneo – arrebatou o navio [a nau] e os marinheiros não puderam fazer
nada, senão “deixar ela ir” (JND). A figura de “Jezabel” é
bem usada aqui porque aquela mulher não apenas trouxe formalmente a idolatria a
Israel, mas também controlou e manipulou seu marido, o rei Acabe.
Sendo esse o estado público da Igreja,
onde ainda não havia poder para lidar com o mal, o Senhor separou um
remanescente, dizendo: “Mas Eu vos digo a vós, e aos restantes [remanescente]...” Ele deixou a massa ir (Ap 2:24). Depois disso, Ele
trabalhou com um remanescente que ouviria o que o Espírito estava dizendo às
igrejas. Aqui, temos a palavra “restante [remanescente]” usada
em conexão com o testemunho Cristão. É significativo que o Senhor não tenha
exercido sobre eles a “carga” de corrigir a confusão no testemunho Cristão,
em um esforço para trazer a Igreja de volta para onde estava antes. Em vez
disso, Ele voltou o foco deles para a Sua vinda, dizendo: “retende-o até que
Eu venha” (Ap 2:25).
Desse ponto em diante, uma mudança
acentuada é vista nos caminhos do Senhor com a Igreja. Até aqui, a voz do
Espírito era para toda a Igreja. “Ouça o que o Espírito diz às igrejas” precedeu
a promessa ao vencedor nas três primeiras igrejas. Isso indica que a
recompensa ao vencedor foi colocada diante de toda a Igreja, porque o Senhor
ainda estava lidando com ela como um todo. Mas agora, nesse ponto, a ordem é invertida.
O chamado para ouvir “o que o Espírito diz às igrejas” segue a
promessa ao vencedor. Esta é a ordem nas últimas quatro igrejas. O que o
Espírito tem a dizer em relação à ordem da Igreja não é mais dado às massas – apenas
ao vencedor. Isso ocorre porque se supõe que somente o vencedor ouvirá o que o
Espírito está dizendo – no contexto da ordem da Igreja, não se espera que as
massas ouçam e se arrependam. A previsão de Paulo a Timóteo de que as massas iriam
desviar “os ouvidos da verdade” aconteceu (2 Tm 4:2-3) e, portanto, o
Espírito não está mais falando com o corpo como um todo.
Comentando sobre essa mudança, J. N.
Darby disse que o corpo como um todo é “deixado de lado” a partir deste ponto,
porque a massa pública na profissão Cristã é tratada como incapaz de ouvir e se
arrepender. O Sr. W. Kelly disse: “Desde então, o Senhor coloca a promessa [ao
vencedor] em primeiro lugar, e isso é porque é inútil esperar que a Igreja como
um todo a receba... apenas um remanescente vence e a promessa é para eles; quanto
aos outros, está tudo acabado.” Como resultado, o Senhor não esperava mais que
a massa da profissão Cristã ouvisse e retornasse ao ponto de onde haviam
desviado. Todo o pensamento de recuperar a Igreja como um todo é abandonado
porque atingiu um ponto de não recuperação. É por isso que não acreditamos que
o Espírito esteja necessariamente falando com todas as pessoas na Cristandade
hoje em relação à verdade de estar reunido ao Seu Nome. Com a maioria, Ele está
deixando que sigam seu próprio caminho em relação às afiliações eclesiásticas deles.
Trabalhando com um testemunho
remanescente desde então, agradou ao Senhor recuperar a verdade que foi perdida
pelo descuido da Igreja nos séculos anteriores. No entanto, Ele não achou
oportuno recuperar toda a verdade de uma só vez. O remanescente mencionado em
Apocalipse 2:24-29 são os valdenses, os albigenses e outros como esses que se
separaram do mal de “Jezabel” nos tempos medievais. Eles foram
instruídos a reter a pouca verdade que tinham. Algum tempo depois, nos tempos
da Reforma, o Senhor permitiu que um pouco mais da verdade fosse recuperada – como
a supremacia da Bíblia e a fé somente em Cristo para a salvação. Mas esse
movimento do Espírito foi impedido pelos reformadores que procuraram vários
governos nacionais na Europa para ajudar contra as perseguições da Igreja de
Roma. Isso equivalia a pedir ajuda à carne, em vez de confiar no Senhor (Jr 17:5;
Sl 118:8-9; Is 31:1). O resultado foi a formação das grandes igrejas nacionais
na Cristandade e a morte do protestantismo começou, como está representado na
igreja de Sardes (Ap 3:1-6).
Não foi até o início de 1800 que o
Senhor restaurou completamente “a fé que uma vez foi dada aos santos” (Jd
3). Isso aconteceu quando os homens se afastaram de tudo que era organização
formal de origem humana na Cristandade. Isso é descrito no discurso do Senhor à
igreja na Filadélfia (Ap 3:7-13). Nessa época, Deus estabeleceu um
testemunho corporativo da verdade de o um só corpo. Antes dessa época, o
remanescente era visto em indivíduos que procuravam continuar fielmente em
separação da corrupção da igreja de Roma. Agora estamos nos dias em que todo
homem está fazendo o que é certo aos seus próprios olhos (Jz 21:25), e a
maioria está satisfeita com seu fraco estado. Isso é descrito na igreja de
Laodiceia (Ap 3:14-22).
O que podemos ver aqui é que o
testemunho Cristão alcançou um ponto de ruína irremediável, e isso exigiu uma
mudança nos caminhos do Senhor. Ele abandonou qualquer tentativa de restaurar, ao
que era antes, o estado público da Igreja como um todo e agora está trabalhando
para manter um testemunho da verdade de reunir-se de forma remanescente.
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