UMA REUNIÃO DE LEITURA – Os princípios
essenciais de uma reunião de leitura da Bíblia são apresentados em 1 Timóteo
4:13. Diz: “Persiste em ler, exortar e ensinar, até que eu vá.” A “leitura”
de que Paulo fala aqui não é a leitura pessoal ou privada da Escritura, ou a
leitura do ministério escrito, mas o de leituras públicas das Escrituras quando
os santos estão reunidos (conforme nota de rodapé da tradução de J. N. Darby).
Era costume da Igreja primitiva se reunir para ouvir as Escrituras serem lidas
(Cl 4:16; 1 Ts 5:27). O fato de Paulo incluir “exortação” e “ensino” indica
que, depois que as Escrituras eram lidas em voz alta, havia uma oportunidade
para o Espírito de Deus usar qualquer um que tivesse um dom para exortar ou
expor a verdade, para fazer comentários para a ajuda espiritual e entendimento
dos santos. Isto é o que é uma reunião de leitura da Bíblia.
Essas reuniões foram valiosas na Igreja
primitiva, porque a maioria naquela época não possuía uma cópia das Escrituras.
Era o único caminho para os santos ouvirem a Palavra de Deus e obterem algum
ministério útil. Essas ocasiões também promoveram comunhão. A escritura diz: “E
perseveravam na doutrina e na comunhão dos apóstolos” (At 2:42 – JND). A
reunião de leitura da Bíblia ainda é um meio maravilhoso de aprender a verdade.
Paulo encorajou Timóteo a usar essas
oportunidades para exercitar seu dom em exortação e ensino. Ele lembrou-lhe de
que ele definitivamente possuía um dom para isso, e que não deveria
negligenciar o uso dele. Ele também lembrou-lhe de que tinha o apoio de seus
irmãos mais velhos (“presbíteros”) que reconheceram seu dom e lhe estenderam
a destra da comunhão no uso dele (1 Tm 4:14). Não devemos encorajar alguém
dessa maneira, se ele não tiver um dom para ministrar a Palavra. A pessoa
poderia se envergonhar, e haveria pouco proveito espiritual para os santos.
Embora a reunião deva ser usada para quem pode ensinar, se não houver alguém
presente que tenha um dom reconhecido para o ensino, os santos ainda poderão
ser alimentados. Se vários irmãos em uma reunião expressarem o que entendem em
conexão com a passagem, na dependência do Senhor, poderão contar com o Espírito
de Deus para dar algo aos santos, porque Deus sempre abençoa a leitura de Sua
Palavra (Ap 1:3).
Obviamente, essa reunião também pode ser
prejudicada por comentários desordenados e debates de pessoas carnais. No
entanto, os princípios que Paulo dá em 1 Coríntios 14, embora sejam primariamente
para governar a reunião aberta, podem ser aplicados a qualquer reunião para o
ministério. Se alguém fala de maneira não produtiva e persiste em fazê-lo, a
assembleia tem o recurso de “julgar” e silenciar essa pessoa. Novamente,
esta é a maneira de Deus de regular o ministério.
É triste dizer que os Irmãos Abertos
lidaram com isso de maneira diferente. O braço “liberal” praticamente eliminou
esta reunião de sua programação regular de reuniões e, assim, livrou-se de
qualquer problema potencial de intromissão da carne. O braço “conservador”
ainda tem reuniões de leitura, mas eles lidam com a dificuldade de outra
maneira. Eles têm um mestre designado para “liderar” as reuniões; ele é chamado
de “mestre ancião” (1 Tm 5:17). Esse homem conduzirá a reunião e explicará as
Escrituras aos santos em forma semelhante a um discurso com todos sentados. Ele
pode ter outro homem “designado” para ajudá-lo no ensino. Os outros na
assembleia não devem falar enquanto a passagem estiver sendo exposta por ele ou
seu ajudante. Mais tarde, na reunião, ele abrirá para perguntas por alguns
minutos. Essas perguntas, é claro, são direcionadas aos mestres que explicaram
a passagem aos santos. Devido à diversidade entre as reuniões dos Irmãos
Abertos, esse pode não ser sempre o caso em todas as assembleias, mas
geralmente o braço “conservador” tem esse formato. W. R. Dronsfield, “The Brethren Since 1870”, relata: “As
leituras foram abandonadas em muitos lugares. Mesmo onde as leituras da Bíblia
são realizadas, elas geralmente são controladas por um presidente designado que
apresenta o assunto ou o capítulo por meio de uma palestra de duração variável
e, em seguida, deixa a reunião aberta para discussão ou perguntas. O ministério
pré-organizado é o costume em alguns lugares.”
Desnecessário dizer que esse arranjo
humano nas leituras bíblicas da assembleia dificulta a liderança do Espírito de
Deus. Um irmão pode ter algo a contribuir que ajudaria no entendimento da
passagem que eles estão considerando, e o Espírito pode querer levá-lo a
compartilhá-la, mas ele não deve interromper o ensino. Esse sistema pode ser
uma maneira conveniente de impedir que as leituras da Bíblia se tornem desordenadas,
mas não é a ordem de Deus. É realmente fazer “da carne o seu braço” (Jr
17:5). Não dizemos que um mestre talentoso não deve liderar o ensino em uma
leitura da Bíblia, mas que deve ser guiado pelo Espírito ao fazê-lo, e que haja
liberdade para que outros presentes contribuam conforme guiados pelo Espírito. A
Escritura não reconhece nada sobre ter um homem designado para liderar no
ensino; essa estrutura interfere na direção do Espírito.
Se realmente acreditamos que o Senhor
está no meio, não teríamos a ideia de ter outra pessoa além d’Ele presidindo as
reuniões do ministério. C. H. Mackintosh disse: “Como uma assembleia poderia
continuar sem alguma direção humana? Isso não levaria a todo tipo de confusão
humana? Não abriria a porta para que todos se intrometessem na assembleia,
independentemente de dom ou qualificação? Nossa resposta é muito simples. Jesus
é todo suficiente. Podemos confiar n’Ele para manter a ordem em Sua casa.
Sentimo-nos muito mais seguros em Suas mãos graciosas e poderosas do que nas
mãos do mais atraente dirigente humano”. A Escritura afirma isso; diz: “É
melhor confiar no Senhor do que confiar no homem” (Sl 118:8).
Externamente, as leituras da Bíblia
entre os Irmãos Abertos “conservadores” podem parecer conforme a Escritura,
mas, na realidade, uma ordem humana foi substituída pela ordem de Deus.
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